terça-feira, setembro 18, 2018

"Os Verdes da Alagoa" - O Casa Pia contra o Fayal Sport Club



Mal sabíamos nós que em 1965, integrados na selecção faialense que se deslocou ao Estado de Massachussets, iríamos defrontar o Casa Pia, perdendo esse jogo por 1-0, sendo essa a única derrota que a selecção sofreu. Os restantes jogos cingiram-se a 7 vitórias, 2 empates e a referida derrota com o Casa Pia.
Em 1984, no ano das “Bodas de Diamante” do FSC, novamente o Casa Pia Atlético Clube visita a Ilha do Faial, cujo resultado foi favorável ao FSC por 3-0.
Recordando a primeira visita, que esta histórica equipa realizou à Ilha do Faial, em Junho de 1922, temos o prazer de transcrever na íntegra o que foi escrito pelo Sr. António Pires, cujo original fotocopiado em A4, se encontra na nossa frente e de cuja origem é de uma revista que tinha como nome “Os Açores” e, segundo julgamos saber, foi publicada em S. Miguel. Este belo texto inicia assim:
“Foi na tarde do dia 23 Junho avançava, grave, solene, hirto, com muito calor, parecendo parar de vez em quando.
No Cais de santa Cruz desembarcara o “Casa Pia Atlético Club” que vinha bater-se, que vinha jogar com o “Faial Sport Club”.

E a cidade inteira, esta cidade que abandona a encosta e vem apressada, entregar-se nos braços do mar, correra a vêl-o, a recebel-o, a saudal-o solicita, carinhosa, contente, amorosa.
A cidade inteira corria alvoraçada, para o Cais de desembarque. Havia entusiasmo, havia interesse. Via-se animação. Nos olhos brilho, nos rostos alegria. Brilho de muita vivacidade, alegria de grande expressão.
O “Casa Pia” acompanhado do FSC e de muito povo, atravessa a cidade, parada, a olhar, a ver, a observar.
Entra na sociedade “Amor da Pátria” onde lhe dão as boas vindas, onde recebe as saudações. Vai em passeio de romaria á Caldeira. Dá volta á ilha, admira a paisagem do Faial, esta paisagem verde, de faias e de incensos, de hortenses e de milho pelas encostas.
E prepara-se para a primeira partida. Eram três as que deveria jogar.

Na primeira o “Casa Pia” ganha por 2 a 0. Na segunda por 4 contra 1, e na terceira o “F.S.C.” consegue empatar por 0 a 0.
Na primeira o F.S.C está nervoso, agitado e desorienta-se perante a técnica e s combinação admiráveis do “Casa Pia”.
Na segunda, serena, domina os nervos e oferece grande resistência. Na terceira, anima-se e oferece ainda maior resistência.
O “Casa Pia” reconhece isto e confessa-o pela boca do seu capitão o Sr. Cândido de Oliveira, que classifica com a primeira categoria o team da Horta.
Foi justo e foi imparcial o Sr. Cândido de Oliveira na sua apreciação.
O F. S. Club é um grupo que se bate com coragem, com ousadia, forte, audacioso, um grupo de admirável resistência.

E foi assim que os três desafios despertaram grande interesse e provocaram um grande entusiasmo.
Dum lado estava a tranquilidade, a calma, a serenidade; do outro a coragem, a valentia. Dum lado, o jôgo de técnica, de sciência, do outro o jôgo forte, de resistência. E os dois grupos, encontrando-se, defrontando-se, chamam-nos, atraem-nos, conseguem arrancar vivos aplausos. A assistência é enorme.
Formam-se partidos. Há discussões, respirações paradas, gritos reprimidos, peitos em sobressalto, vozes que se encontram e olhares que se cruzam. Há palmas, há irritações, ha senhoras que se apertam e homens que se levantam. Ha exclamações e ha admirações. Ha palmas, ha irritações. Ha risos e ha contracções. Ha rostos alegres e iras mal disfarçadas.

No fundo uma só alma, a mesma alma que vibra, que grita, o sentimento duma mesma impressão.
Mas as horas passam de pressa, ligeiras, apressadas, dramáticas, hora de grande, de viva emoção.
Os dias decorrem; as três partidas terminam e o “Lima”, que ha-de levar o “Casa Pia” para Lisboa, aproxima-se.
A cidade continua em festa, em festa permanente no sorriso encantado duma cidade que recebe carinhosamente, amorosamente.
É a Horta, a cidade da Horta, esta cidade carinhosa que encostada ao sonho da sua grande hospitalidade, abraça os seus hospedes n’um abraço doce, bom, leal, num abraço de que recebe os carinhos do mar.

Mas as horas continuam a correr, cruéis, impiedosas.
O “Lima” parte levando a saudade e a cidade cai, adormece nos braços do mar.
Horta, Julho de 1922. António Pires"

J. Luís

Publicado no Incentivo a 17 de Setembro 2018

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