domingo, julho 15, 2018

"Os Verdes da Alagoa" - A selecção faialense em New Bedford (1965)



Em pé da esquerda para a direita: Jaime Serpa (Director da AFH), Mário Garcia (SCH),
Gaspar Neves, (FSC), Manuel Raposo (FSC), Hildeberto Serpa (AAC), João Luís (FSC),
Rui Goulart (AAC), Mário Serpa (AAC), Manuel Cristo (FSC), Carlos “Cantoa” (SCH) e o massagista do FSC, Sr. José Dutra.
Em 1.º plano, pela mesma forma: Fernando Faria (FSC), Necas Madruga (FSC), Abel Lima (SCH), Armando Sousa (FSC), Helder “Cachopo” (AAC), João Ângelo (FSC)
 Mário Macedo (FSC) e João Castro (SCH).
Ausente da foto o Sr. Renato Azevedo (Director da AFH)

Em 1957 a ilha do Faial era atingida por um espectacular fenómeno da natureza: na zona dos Capelinhos as primeiras fumarolas de um vulcão davam mostras de que algo iria acontecer. E assim foi. Com os passar dos meses esse fenómeno da natureza tomou enormes proporções, obrigando a que muitas famílias faialenses – através de acordos luso-americanos – emigrassem nos anos seguintes para terras do Tio Sam, principalmente para a cidade de New Bedford, Estado de Massachussets.
Afastados da sua ilha natal, muitos faialenses para possuírem um meio que os fizesse recordar que estavam na sua ilha fundaram o “Clube União Faialense” cujos principais membros directivos eram naturais desta ilha.
Para além de outras actividades recreativas, esses faialenses, como não podia deixar de ser, constituíram anos mais tarde, uma equipa de futebol, na qual se encontravam integrados jogadores das três equipas faialenses: FSC, AAC e SCH.

Saindo da Horta no dia 21 de Julho de 1965, mas a convite do Portuguese Sport Club, com sede em New Bedford, a selecção faialense deslocou-se ao Estado de Massachussets para realizar alguns jogos que envolviam vários clubes, com sedes em várias cidades e que possuíam nas suas fileiras jogadores das três colectividades desportivas faialenses. Integrado numa equipa composta por dezassete jogadores, dois dirigentes e um massagista, a selecção faialense partiu do porto da Horta embarcando no “Terra Alta” desembarcando em Angra do Heroísmo.
No Aeroporto das Lajes entraram num avião cuja lotação de passageiros era muito limitada e cujo destino foi o designado “Aeroporto aero-vacas” de piso térreo, situado nas imediações da Ribeira Grande, em S. Miguel.
Nesta ilha, embarcaram novamente numa aeronave da SATA, também de pequenas dimensões, as quais somente tinha espaço para transportar a caravana faialense. Em Santa Maria toda a equipa e restantes passageiros entraram num avião da TWA, com destino à América.

No Aeroporto de Boston, encontrava-se uma enorme multidão e à chegada a New Bedford, esse número excedeu todas as expectativas. Para qualquer lado que se virasse a cabeça, deparava-se logo com um faialense radicado naquela e noutras cidades.
Não há palavras que possam registar na realidade, a alegria, a saudade e o carinho prestado a toda a caravana faialense por parte dos emigrantes que na América procuraram uma vida melhor, após a erupção do Vulcão dos Capelinhos. Foram manifestações de muito afecto, aquelas que foram prestadas pelos emigrantes radicados nas várias cidades daquele Estado destacando-se, em cada abraço, a saudade que sentiam por todas as recordações que a selecção representava.
Todos os elementos da caravana faialense ficaram alojados em casas de família ou de pessoas amigas. Foi nestas residências que os jogadores da selecção tomaram conhecimento, pela primeira vez, da existência da “caixa” que revolucionou o mundo: a TV, não a cores, mas a preto e branco.
É de recordar também a longa deslocação de autocarro que foi oferecido à selecção com destino à cidade de Nova York onde foi visitada a Feira Mundial

Em New Bedford a “Festa dos Madeirenses”, foi outro evento que não podia deixar de ser visto. As “espetadas” eram o “prato forte” da ementa.
Nessa festa passou-se um caso curioso com o Necas Madruga quando foi-lhe negada, numa “barraquinha” uma cerveja porque a sua estatura física sugeria não possuir mais de dezoito anos de idade.
No dia 25 de Julho de 1965, domingo, a selecção faialense inicia o périplo por terras da América. Para além do Portuguese Sport Club, com quem a selecção faialense defrontou por duas vezes, teve ainda como adversárias as selecções de New Bedford, da Nova Inglaterra, a Selecção Faialense dos USA, de Rhod Island e ainda equipas de Fall River, East Providence, o Casa Pia, perante o qual a selecção perdeu por 1-0, o Tauton Sports, o Lowel Sports, e por último o “Espanhol”, equipa profissional, conhecida entre a comunidade faialense pelos famosos “Pretos de Nova Iorque”, perante os quais saíram vencedores por 3-1. Já lá vão 53 anos!

 De 25 de Julho até 22 de Agosto a selecção faialense nos 10 jogos realizados, obteve 7 vitórias, 2 empates e uma derrota. Foram marcados 37 golos e foram só consentidos apenas 9.
Esta selecção faialense, que em “Terras do Tio Sam” deixou uma imagem inesquecível de simpatia e amizade junto daqueles que por necessidade ou por opção, decidiram procurar nas terras norte-americanas uma vida melhor, foi treinada pelo Prof. Gaspar Neves.
No regresso da América, toda a caravana foi recebida, na Cais de Santa Cruz, por várias centenas de faialenses, seguindo-se um cortejo até ao edifício do Governo Civil, onde a selecção foi recebida pelo Governador do Distrito Autónomo da Horta, Dr. António de Freitas Pimentel.

J. Luís

Publicado no Incentivo a 09 de Julho 2018

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