sexta-feira, julho 13, 2018

"Os Verdes da Alagoa" - Disputa do Torneio Açoriano à Taça de Portugal em Ponta Delgada (1965)


De pé, da esquerda para a direita: José Almeida, Helder Quaresma, Alfredo Simão, Manuel Raposo, Manuel Cristo, João Ângelo e João Luís.
Em 1.º plano e pela mesma ordem: Armando Sousa, Gaspar Neves, Mário Macedo, Fernando Faria e Necas Madruga.

Para a participação nos Torneios Açorianos, com a presença dos Clubes vencedores e que representavam as três Associações Açorianas, as equipas deslocavam-se a bordo de navios e a ausência da ilha era de mais ou menos de 15 dias.
Saía-se da Horta, numa quinta-feira – se não estamos em erro - com destino a Ponta Delgada. No domingo seguinte, realizava-se o primeiro jogo. Na quarta-feira, o segundo encontro e no segundo domingo a terceira e última partida. O regresso de S. Miguel era efectuado na segunda-feira à noite e o da Terceira na terça-feira antes do meio-dia. À Horta, chegava-se na quarta à tarde ou durante a noite.
Nesse período de tempo, quer na Terceira quer em S. Miguel, eram oferecidos alguns passeios à caravana verde. Era nessas deslocações que os jogadores iam tomando conhecimento das paisagens dessas ilhas e a longa costa sul de S. Jorge.

Nas participações do FSC nos Torneios Açorianos à Taça de Portugal, contra equipas bem estruturadas e organizadas (e foram várias nessa década de 60) os “Verdes da Alagoa” obtiveram sempre resultados bastante satisfatórios, com jogadores que “gastavam até aos joelhos”.
 Era com base neste lema e na total entrega dos seus futebolistas, que as exibições dos mesmos deixavam os adeptos das equipas adversárias admirados pela maneira como os amadores do FSC enfrentavam, com garra e determinação, equipas consideradas de outro gabarito e algumas delas, davam aos seus jogadores como incentivo, prémios monetários referentes a treinos e a jogos.
O percurso entre o alojamento e o campo de jogo era feito sempre a pé: na Terceira, a equipa dos verdes ficava alojada na pensão “Beira-Mar”, que tinha o seu edifício a poucos quilómetros do campo municipal de Angra do Heroísmo e em S. Miguel, na “Pensão Central, que ficava afastado a pouco mais de dois quilómetros do campo Jácome Correia.

Cada jogador transportava o seu equipamento em sacos de mão. Os jogadores do FSC deslocavam-se em grupo e eram facilmente identificados, porque iam equipados com um fato de treino verde – este durou vários anos porque era somente usado nas deslocações para fora da ilha – pelo que era muito vulgar as pessoas fazerem observações mais ou menos jocosas:
- “Esses são os jogadores que vão defrontar a nossa equipa? Pois vão levar muitos!”.
Os fatos de treino (de cor verde claro) foram executados, nos inícios da década de 1960, pela esposa do ex-guarda-redes e treinador Sr. António Torres Castro Neves, sendo, provavelmente, os primeiros fatos de treino a serem usados pela equipa de seniores dos “Verdes da Alagoa.
Nesse torneio, realizado no pelado campo Jácome Correia, em Ponta Delgada, para além do FSC, participaram também o Sport Clube Lusitânia e o Micaelense Futebol Clube.
Neste jogo há uma pequena história que deve ser aqui também recordada.

No jogo contra o Lusitânia, o seu habilidoso avançado-centro, conhecido por “Airosa”, tinha por hábito provocar o defesa central do FSC, Manuel Cristo, sempre com a intenção de que este, devido à sua maneira de jogar, fizesse uma entrada mais faltosa que desse origem à sua expulsão. Essa situação nunca sucedeu. O que o “Airosa” não estava à espera é que numa disputa de bola entre os dois e sobre uma das laterais do campo de jogo, existiu um pequeno encosto e o “Airosa” faz-se à falta e cai no chão. Nesta situação o Manuel Cristo, com um “gesto de amizade” pegou no “Airosa” e colocou-o fora das quatro linhas. Sobre esta atitude o árbitro do encontro nada fez. Marcou a falta, deu autorização para que o “Airosa” entrasse no campo e o jogo assim prosseguiu.

Os resultados foram os seguintes:
Micaelense, 2 – Lusitânia, 2
Fayal Sport, 1 – Lusitânia, 1
Fayal Sport Club, 1 – Micaelense, 4
Vencedor Clube União Micaelense.

Novamente, depois de mais de 10 dias em terras micaelenses e sempre alojados na “Pensão Central”, lá se regressava ao Faial onde todos se iriam preparar para o início de uma nova época e regressarem às suas residências e aos seus locais de trabalho de onde estiveram ausentes cerca de 15 dias.

J. Luís

Publicado no Incentivo a 02 de Julho 2018

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