segunda-feira, junho 25, 2018

"Os Verdes da Alagoa" - Recordações da nossa juventude


De pé, da esquerda para a direita: António Costa, António Dutra, António Garcia (que viria a ser campeão açoriano, em 1959, como treinador),
João Rodrigues (treinador), António Torres Neves,
João Fernandes e António P. Neves.
Sentados, da esquerda para a direita: Thiers Lemos Jr., Joaquim Morisson,
Eduino Cândido, Armando Amaral e Manuel Bulcão.

Julgo não ser muito natural que pessoas da minha geração se debrucem e recordem situações que aconteceram durante a sua juventude. Foi nesses anos em que éramos “donos” das ruas onde brincávamos. E essa “propriedade” era nossa enquanto não fosse lançado o aviso de alerta de que “vem aí o polícia”.
Cada um fugia para o seu lado e aquele que tinha a bola, consigo a levava, porque era um bem precioso. As pequenas bolas de futebol não existiam com fartura e o dinheiro para as adquirir, era mesmo muito pouco.
Como exemplo, para se realizar uma partida de “hóquei em patins” havia alguém que se deslocava à ex-Colónia Alemã, onde existia um campo de ténis e pelos seus arredores andava à procura de uma bola perdida. A maioria dos “sticks” não eram de madeira, mas sim, feitos com as canas e suas raízes que tivessem o formato desejado, que existiam nas imediações da Espalamaca e cujo exímio executante era o nosso amigo Jaime Almeida (Paciência).
Nas ruas cobertas de bagacinha, alguns que tinham como “sola de sapato” a “sola do pé”, de vez em quando, sofriam as consequências da sua vulnerabilidade uma vez que estavam sujeitos a sofrerem as consequências de obterem, uma “trelhadura” na sola do pé. Esta bolha de sangue, surgia porque o pé pisava determinada pedra que dias depois, dava origem a que não se conseguisse colocar o pé no chão. Esta bolha, ora aparecia na parte da frente ora no calcanhar do pé obrigando a que se andasse de “pé coxinho”.
Para o tratamento desse ferimento, nossas mães, usavam sopas de pão quente – amarrando-as ao pé com um pano - para amolecer a bolha e poucos dias depois, usavam uma lâmina de barbear, cortando-a ao meio onde faziam uma abertura na bolha de sangue e depois era desinfectada com aguardente. 
A acompanhar este acontecimento, havia outro também doloroso e que era conhecido como “topada”. Durante uma partida de futebol onde participavam 10 ou 12 rapazes, de vez em quando, o pontapé atingia uma pedra que se encontrava meio escondida no piso térreo e lá se abria um golpe numa das cabeças dos dedos do pé. Para estancar o sangue que corria abundantemente, a rapaziada recorria às teias de aranha que eram encontradas nos imensos arbustos que existiam por todo lado ou nas paredes da ribeira da Conceição.
Mas andar de pé descalço naquelas épocas era um risco enorme. Para além destes incidentes, existia outro que não era menos doloroso. O piso do “Alto” era coberto com erva e trevo. Este, ao expor a sua flor, originava que as abelhas lá pousassem para colher o seu néctar. Os jovens da nossa geração, na ânsia de correr atrás da bola, lá pisavam a abelha e ao mesmo tempo levavam uma ferroada. Esta picadela se não fosse “tratada nas devidas condições”, o pé infectava e como tal inchava. Para sarar este mal, a única cura que era conhecida naquele tempo, era dirigirmo-nos aos nossos companheiros nestes termos: “Quem tem vontade de urinar? Levei uma ferroada de uma abelha e preciso da vossa ajuda”.
Para além destas três formas de proceder, ainda havia outra em que o cão era o “curandeiro”, ao lamber a ferida do “sinistrado”. A razão que a saliva do cão possuía meios curativos para qualquer tipo de ferida, para os jovens desse tempo, era desconhecida, mas sabia-se que esse processo era uma das maneiras de cura.
E era nestas condições que muitos jogadores da nossa juventude aprenderam a dar uns pontapés na bola, seguindo o exemplo daqueles que no campo da Alagoa, pertenceram e pertenciam às fileiras desportivas do decano dos clubes açorianos.
E como esta série de artigos diz respeito aos “Verdes da Alagoa”, é grato recordar o nome das pessoas que ainda tivemos a honra de conhecer, não como jogadores mas como cidadãos desta cidade e que estão sublinhados na foto abaixo impressa e proveniente do livro a seguir citado.
 Foram jogadores como estes que, nas décadas anteriores e seguintes do século passado, influenciaram e contribuíram de uma maneira ou de outra, todos os amigos da nossa juventude (e não só) a calçarem um par de botas.
Esta equipa, segundo o relato descrito no livro “Fayal Sport Club – Subsídios para a sua história” da autoria do Sr. José Bettencourt Brum (que foi durante muitos anos Presidente da Direcção e Presidente da Assembleia-Geral) e publicado em 1988, era designada por “Onze Maravilha”, vencedora dos campeonatos distritais em 1938 e 1939 e Torneio de Classificação, em 1940

J. Luís

Publicado no Incentivo a 14 de Maio 2018

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