sábado, junho 30, 2018

"Os Verdes da Alagoa" - Os Campeões Açorianos


De pé, da esquerda para a direita: Fernando Menezes (Director), Afonso Serpa, Manuel Gaspar, Manuel Vasques, Ilídio Pacheco. Manuel Cristo,
Manuel Moniz (Raposo), José Machado e Gui Pacheco.
Em 1.º plano, da mesma forma: Luís Almeida, Vítor Pinheiro, Gaspar Neves, Antero Gonçalves, Eduino Costa e Fernando Morisson.

Nossos pais são naturais de S. Miguel. Nosso pai nasceu na freguesia dos Arrifes e nossa mãe no lugar da Várzea, freguesia dos Ginetes.
Pela viagem, com destino à nossa ilha, nosso pai pensou para consigo próprio: se a ilha do Faial possuísse um clube de futebol de cores verdes, ele seria adepto desse clube.
No início da chegada de nossos pais a esta ilha, instalaram-se na freguesia da Conceição e, para surpresa sua, no primeiro jogo que assiste vê uma equipa de futebol vestida com uma camisola verde e calções brancos. Rejubilou de alegria.
O seu clube, em S. Miguel era o Clube União Desportiva, que também equipava de verde.
A mensagem do verde foi transmitida aos filhos e por sermos jovens e por termos vários espaços nas ruas da freguesia à nossa disposição – com excepção da presença ao longe de um polícia – a simpatia pelo Fayal Sport ficou à disposição da maioria dos jovens da freguesia, que nesses anos, diga-se de passagem, existiam por todo o lado.

Nosso pai que estava ligado à pastelaria e à cozinha, na época de 1958/59 em que o Fayal Sport venceu, em Ponta Delgada, o Torneio de Classificação à Taça de Portugal, a sua colaboração, segundo testemunho que nos foi dado pelo Sr. Fernando Manuel Machado Menezes, contribuiu em muito para essa vitória.
Para além da família, tinha mais uma paixão que se chamava “Fayal Sport Club”. Por este clube ele fazia tudo o que lhe era possível. No ano em que esta colectividade foi vencedora do Torneio de Classificação à Taça de Portugal, disputado em 1959, em Ponta Delgada, era ele que levava para o balneário dos jogadores, os bolos que não eram vendidos por minha mãe, nas ruas da nossa cidade e preparava as sandes de pão com manteiga e o leite com cacau para dar aos jogadores em cada sessão de treino, que era realizado de manhã cedo, porque no início da sua construção, o estádio não possuía postes com luz eléctrica e também se lavavam em água fria. Tanto o pão como o leite e o cacau, eram suportados por um grupo de sócios, que pagando uma quota suplementar, asseguravam o fornecimento do pequeno almoço dos jogadores.

Depois deste compromisso, regressava ao espaço da “Padaria Faial”, situada no Largo do Bispo e onde hoje funciona uma loja de venda de roupa e continuava o seu trabalho de pasteleiro e de padeiro.
O Fayal Sport Club foi o vencedor do Torneio de Classificação dos Açores à Taça de Portugal, disputado em Ponta Delgada, obtendo os seguintes resultados:
FSC, 2 – SCAngrense, 1
CUMicaelense, 1 – SCAngrense, 1
FSC, 2 – CUMicaelense, 2
Para a história do Fayal Sport e relacionado com esta conquista, temos a honra de transcrever a crónica histórica publicada no livro “Fayal Sport Club – Subsídios para a sua história”, da autoria do Sr. José Bettencourt Brum:
“Na época de 1958/59, o Fayal Sport Club, em representação da Associação de Futebol da Horta, deslocou-se a Ponta Delgada a fim de disputar o Torneio de Classificação dos Açores à Taça de Portugal, defrontando o Sport Clube Angrense e Clube União Micaelense.
Deste confronto saiu vencedor, deslocando-se então à Madeira, onde sucumbiu, honrosamente, frente à valorosa turma do Clube Sport Marítimo (0-1 e 0-3).
Em face do seu comportamento na prova, os desportistas do Fayal Sport Club foram alvo das mais entusiásticas provas de amizade e simpatia de organismos desportivos de outras ilhas e de seus simpatizantes nelas radicados, das quais poderemos destacar:
 Simpática recepção que o Colónia Faialense de Santa Maria lhes dispensou, ofertando-lhes uma taça, sendo também obsequiados com um Porto de Honra, oferecido pelo “Clube Asas dos Atlântico”.

Os faialenses residentes na Terceira, quiseram também homenageá-los, impondo-lhes as faixas de campeões e oferecendo-lhes uma taça, bem como um almoço no Monte Brasil.
Na sua passagem pela Graciosa, os desportistas faialenses foram alvo de simpática homenagem, tendo sido também obsequiados com um “copo de água”.
A Associação de Futebol de S. Miguel ofereceu-lhes um passeio e almoço regional nas Furnas.
No Funchal, a respectiva Associação de Futebol, ofereceu-lhes um almoço e um passeio, sendo também homenageados pelo Clube Sport Marítimo e Centro Açoriano, com passeios e “copos de água”.
A 3 de Maio de 1969, o jornal do Fayal Sport Club escrevia, na sua edição N.º 35, a propósito da deslocação do vencedor açoriano a terras madeirenses para defrontar a categorizada equipa do Marítimo, cujo título era o seguinte:
“Há 10 anos, o Fayal Sport na Madeira – Campeões da simpatia:
Ir à Madeira era um sonho de anos dos futebolistas do Fayal Sport.
Todavia em virtude dos enormes encargos de uma deslocação de tão grande monta, e uma vez que não tínhamos o cartaz necessário para acarretar com tal despesa, essa aspiração só poderia ser concretizada se o Clube conseguisse conquistar, em campo, o direito de representar os Açores na eliminatória com a Madeira para a Taça de Portugal e, ainda, no caso em que esta prova se efectuasse no Funchal.
E, por feliz e agradável coincidência, tal facto aconteceu, precisamente, quando o Fayal Sport comemorou o Cinquentenário.
Ganho, em Ponta Delgada, o memorável Torneio Açoriano e demovidas todas as dificuldades surgidas por uma segunda deslocação, a equipa “verde” do Faial embarca no já velho “Lima”, a 26 de Abril de 1959, pela primeira vez, rumo à Madeira.
Dois objectivos levavam os briosos desportistas – prestigiar o futebol açoriano e contribuir para um maior estreitamento nos laços de amizade que unem os dois arquipélagos e, de modo especial, as ilhas – Faial, Jardim do Açores e Madeira, Pérola do Atlântico.
E, gostosamente, recordamos que os nossos jogadores conseguiram inteiramente o intento, pois não só alcançaram o melhor resultado feito na Madeira por um grupo açoriano, na difícil competição (uma derrota por 1-0), como também foram cognominados de “Campeões da Simpatia”.

J. Luís

Publicado no Incentivo a 21 de Maio 2018

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