(Com as faixas de Campeão da AFH na época de 1968/69)
Em primeiro plano, da esquerda para a direita: João Almeida (Camacho), Manuel Silveira,
Carlos Machado, Manuel Bulcão, Fernando Faria e António Marques
De pé, pela mesma ordem: Costa Pereira, Mário Barbosa, João Ribeiro, João Luís, João Quadros,
Manuel Lima (Pirolito, filho), Manuel Cristo, Manuel Almeida (Batata) e Antero Gonçalves (Treinador).
Era eu um jovem de 12 anos e de pé descalço, quando me inscrevi nas categorias de formação do decano dos clubes açorianos e o primeiro par de botas que calcei foram abotoadas pelo meu amigo Victor Pinheiro, gesto que eu demonstrei que tinha dificuldade em executar.
Os anos passaram e aos 18 anos incompletos ingressei na 1.ª categoria e fiz parte da equipa que em 1960 se deslocou à Ilha Graciosa para participar no programa das Festas do Senhor Santo Cristo que se realizam em Agosto de cada ano.
Nessa época, os jogadores recebiam o seu número conforme o lugar que ocupavam dentro do campo. Exemplo: Guarda-redes, 1; defesa direito, 2; defesa central, 3; defesa esquerdo, 4; médio direito, 5; médio esquerdo, 6; extremo direito, 7; interior direito, 8; avançado centro, 9; interior esquerdo, 10; e extremo esquerdo, 11.
Da história que conheço do decano dos clubes açorianos, fiquei a saber que a década de 1960 foi aquela em que o FayaL Sport conquistou nada mais, nada menos do que 7 campeonatos distritais e dos quais sempre fiz parte. A maioria dos seus jogadores morava na freguesia da Conceição. Na foto, são nove os jogadores (cujos nomes estão sublinhados) que tinham morada fixa nesta freguesia.
Os anos foram passando e os sistemas tácticos foram sofrendo alterações, mas o número 6 ficou sempre na “minha posse” até que em 1978 “arrumei as botas”.
O número 6 passou para outros jovens e quando meu filho ingressou nos seniores do Fayal Sport, envergou a camisola 6. Os anos foram passando e como tenho dois netos que sabem também dar “um pontapé na bola”, o mais velho quando se inscreveu nas suas fileiras desportivas pediu que lhe fosse entregue a camisola com o mesmo número e com ela jogou sempre até chegar à primeira categoria. Aqui encontrou dificuldades porque quem a usava era um jogador mais antigo e por isso não lhe foi entregue. Mas usou a camisola 16, que representava o número 1 que o irmão, guarda-redes, usava e o 6 que o avô e o pai vestiram.
Nos “Verdes da Alagoa”, livro escrito por mim e lançado em Fevereiro de 2011, na sua capa está a imagem de um jogador em cujos calções está visível o número 6.
Digo e julgo saber, porque infelizmente não vou ao futebol há alguns anos, que a razão da ausência de espectadores nos jogos de futebol, reside no facto de que nos prélios de hoje não se respeita nada nem ninguém.
Nos tempos que já lá vão os Srs. árbitros puniam, segundo os regulamentos, todo aquele que pronunciasse palavras obscenas, dentro das quatro linhas e aqueles que se sentavam no banco de suplentes.
Nos pouquíssimos jogos que assisti e onde participaram os meus netos, manifestei o meu desagrado quando ouvia o respectivo treinador chamar obscenidades a este ou àquele jovem. Era uma atitude que, sinceramente, me revoltava, porque esse treinador, usando esses palavrões dirigidos a um dos seus pupilos, era o mesmo que estivesse chamando a um dos meus netos.
O pior de tudo isso, mesmo batendo à porta dos árbitros a perguntar-lhes se os regulamentos disciplinares tinham sido alterados e obtendo a resposta de que os mesmos continuavam inalterados, a razão de que os jogadores, treinadores e directores dos clubes não são punidos nas suas expressões obscenas, é porque “o hábito faz o monge” e por tudo e por nada, usar obscenidades faz parte da educação, do costume e da afirmação.
Mas isto são apenas desabafos de alguém que já escreveu - em Dezembro de 2013 nas colunas deste jornal - sobre este assunto e as entidades responsáveis pelo nosso futebol, que eu saiba, nunca procederam em conformidade.
Não sei se é pelos palavrões, se é pela qualidade do futebol ou se por outro motivo qualquer, noto que o estádio da Alagoa tem poucos espectadores. É muito provável que o mesmo suceda nos outros campos.
Há poucos dias, chegou-me a notícia de que o meu neto mais novo, André Pinto Pereira, guarda-redes por escolha e por motivos derivados da falta de jogadores, foi-lhe proposto pelo seu treinador que iria jogar fora da baliza.
Meditando nessa proposta, meu neto retorquiu:
- “Sr. Treinador, eu agradecia que me fosse atribuída a camisola com o número 6”.
Estranhando, naturalmente, o pedido formulado, o treinador questionou meu neto nos seguintes termos:
- “Qual o motivo da tua escolha”?
- “O motivo da escolha, Sr. treinador, é que meu avô João Luís durante muitos anos, envergou a camisola 6. Anos mais tarde, meu pai, José Luís, também envergou neste clube a camisola 6. Meu irmão João Rodrigo, enquanto jogador nas categorias de formação do decano dos clubes açorianos, envergou essa camisola como número 6. É esta a razão do meu pedido”.
A camisola com o número 6 foi-lhe atribuída.
Para um avô babado como eu, saber desta pequena história, não é o suficiente. Esta, para mim, é uma história que não deve ser contada “dentro das 4 portas” mas sim “dentro das quatro linhas do estádio da Alagoa”.
J. Luís
Publicado no Incentivo a 30 de Abril de 2018
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