quarta-feira, junho 27, 2018
"Os Verdes da Alagoa" - Estádio da Alagoa: o primeiro dos Açores
Éramos miúdos que calcorreavam quase todas as ruas da freguesia da Conceição. A Rua Velha, por motivos que não interessa nestas linhas recordar, era-nos interditada por nossos pais, pelo que a rapaziada dessa época, só de “longe” por lá passava.
Uma das áreas mais frequentada por nós era o “Alto”, já aqui mencionado e foi neste lugar, no lado virado a norte, que era extraído entulho para o estádio.
Aqui se recorda que os muros da ribeira da Conceição, suportavam uma “linha-férrea” que era percorrida de cá para lá e de lá para cá, por um pequeno carro de ferro que transportava o entulho do “Alto” para o estádio. Aqui, os trabalhadores desengatavam o fecho de segurança e fazendo força num dos lados, todo o entulho era despejado no sítio desejado.
Esses carros serviram muitas vezes, de alternativa das nossas brincadeiras. Como todos os jovens, o instinto da aventura obrigava a que nós saltássemos para dentro desses pequenos carros e parássemos no piso do futuro estádio.
A propósito da construção do estádio, leia-se o que escreveu alguém que deixou história no clube da Alagoa:
“Em 1936 o FSC possuía o seu campo no Relvão da Doca, na freguesia das Angústias, espaço que não possuía vedação, não permitindo, por isso, receitas compensadoras.
À procura de espaço para a sua construção, os vários dirigentes, fizeram várias demarches junto de organismos administrativos locais no sentido de ser construído o tão desejado campo de futebol, sendo o local escolhido o espaço hoje ocupado pelo Bairro da Boa Vista. Este local foi posto de lado e, novamente, o Fayal Sport por vários sítios da cidade andou à procura de espaço para a construção do seu campo de futebol. E assim, depois de várias tentativas e contactos, vieram a descobrir que o terreno situado na Alagoa, propriedade do Estado e que em breve iria ser posto à arrematação, seria o local desejado para implementar o seu campo de futebol.
Em 1938, foi requerido ao Ministério das Finanças a troca do campo do Relvão da Doca pelo terreno do Estado sito na Avenida Machado Serpa, sendo cedido aos “Verdes da Alagoa” em 1939.
Devido a esta troca, apareceram pessoas ligadas a outros clubes que tentaram impedir que tal “negócio” se efectuasse e como tais intenções não produziram o efeito desejado, apareceu um indivíduo vindo da América que influenciado pelos adversários do FSC requereu a compra, por 60 contos, do terreno que havia sido cedido pelo Estado.
Esta “brincadeira” custou caro, uma vez que foi mandado fazer nova avaliação dos terrenos que custaram, durante 10 anos, a obrigação de pagar a importância de 1.500$00.
Para a realização desta formidável obra era mister a constituição duma comissão que a orientasse e dirigisse.
A Assembleia-Geral do Clube assim o reconheceu e em sua sessão de 28 de Outubro de 1940 nomeou a seguinte comissão, que tomou conta da realização do primeiro período de trabalhos: Joaquim da Silva Viana, Luís da Terra, Carlos Ennes da Costa Ramos Jr., José Cunha de Lacerda e António da Rosa Dutra Goulart.
Como o compasso de espera entre este primeiro período de trabalhos e o segundo durou cerca de 10 anos, foi necessário nomear uma nova comissão para dirigir os respectivos trabalhos.
A Assembleia-Geral, em sua reunião de 11 de Março de 1951, nomeou então a seguinte comissão executiva, (CEPE) a quem deu absoluta autonomia: Luís Whitton da Terra, António Simões Pinto e António da Rosa Dutra Goulart.
O Estádio foi festivamente inaugurado no dia 11 de Julho de 1954 com um inesquecível festival, perante esfusiante entusiasmo da massa desportiva, entusiasmo a que talvez só aparentemente correspondiam os dirigentes do Clube, pois só eles sabiam que a maravilhosa obra acabada de realizar colocara o Clube à beira dum terrível abismo.
O nosso grito de alarme foi generosamente escutado por Sua Ex,ª o Sr. Ministro das Obras Públicas, Exm.º Sr. Eng.º Eduardo de Arantes e Oliveira que, por seu despacho de 11-11-1954 concedeu um reforço de comparticipação na importância de 88.000$00, perfazendo assim uma comparticipação de 40% modificando-se então toda a nossa situação que se transformou de trágica em risonha.
E assim mais uma vez a divisa venceu CRER E QUERER”. (*)
E foi no ervado deste Estádio que conhecemos, para além da erva tradicional e do trevo, a “erva cavalo” – espécie de espiga rija que tinha quase o mesmo aspecto do “rabo de cavalo” - que obrigava os contínuos a cortá-la periodicamente, uma vez que ela crescia rapidamente.
Pois foi numa dessas “moitas” que o inesquecível Manuel Cristo da Silva, num treino, ao esticar a perna para controlar o esférico com o pé esquerdo, prende os pitons numa delas, partindo o perónio. Decorria a época de 1967/68 quando este incidente ocorreu.
Em algumas épocas de Verão, como o piso do campo não era usado, esta erva crescia de tal modo que, depois de cortada, era vendida pela Direcção em fardos para alimentar animais ruminantes.
(*) Foto e texto extraídos do livro “Fayal Sport Club – Subsídios para a sua história” da autoria do Sr. José Bettencourt Brum que, para além de ter sido Presidente da Direcção e da Assembleia Geral, esteve sempre ligado às obras do Estádio e da construção do ginásio.
J. Luís
Publicado no Incentivo a 18 de Maio 2018
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