terça-feira, fevereiro 05, 2019

"Os Verdes da Alagoa" - Um treinador assim-assim


Durante a nossa vida desportiva (1955 a 1978), conhecemos colegas jogadores que durante anos consecutivos acompanhámos dentro das quatro linhas. Referimo-nos a Manuel Cristo da Silva (1952 a 1973), Manuel Rodrigues Moniz (“Manuel Raposo” - 1957 a 1969) e Carlos Alberto da Silva Machado (1956 a 1976).
Para além dos muitos atletas que connosco partilharam a mesma camisola, também conhecemos 14 Presidentes da Direcção e 11 treinadores.
Para além de jogador e director, também nos virámos para a nova experiência de treinador.
Iniciámos essa carreira na época de 1984, com a equipa de juvenis do Fayal Sport Club que, nessa época, defrontava as equipas de juniores do Angústias Atlético Clube e do Sporting Club da Horta, que possuíam nas suas fileiras jogadores com mais idade e experiência.
Todos os jovens dessa época recordam-se de, no final desses prélios, o volume de golos ser bastante excessivo. As diferenças de idades eram acentuadas. Os jogadores dos “Verdes da Alagoa” a maioria deles com pouco mais de 12 anos defrontavam adversários que tinham mais de 16. Havia resultados que ultrapassavam os 5-0.

No ano seguinte, com um pouco mais de experiência, foi proposto aos jovens jogadores que “nesta época se perdermos por mais de 3-0 será considerado uma derrota. Se perdermos por menos de 3-0 será considerado uma vitória”.
Este propósito foi aplicado nas épocas seguintes e na de 1986/87 a equipa de juvenis do Fayal Sport Club era campeã da Associação de Futebol da Horta.
Ainda não tinha sido iniciada a época de 1988/89 e na primeira reunião realizada com todos os atletas, somos surpreendidos pelo porta-voz dos jogadores quando nos manifestou a vontade de que não continuássemos a treinar. Ficámos atónitos ao termos conhecimento de que a maioria dos jovens fazia uma proposta para que fossemos retirados duma missão que, como tantas outras, era dedicada ao clube do nosso coração.

Era Director desportivo o nosso saudoso amigo e companheiro de muitas lides desportivas João Ângelo Miguel, que depois de ouvir as nossas palavras de que aceitávamos o “convite de demissão”, muito insistiu para que ficássemos à frente da equipa.
Foi-lhe respondido que nos íamos embora, mas não zangado com ninguém. Em primeiro lugar estavam os interesses do Fayal Sport Club e depois os nossos. Se os jovens não nos queriam como treinador, tinham todo o direito de o manifestar e desempenhando uma missão de que eles não desejavam, era muito provável que muitos deles se iriam embora. Com esse procedimento quem sairia prejudicado seria o decano dos clubes açorianos.
Victor Rosa, que desempenhava as funções de treinador adjunto continuou com o trabalho de os treinar. Na época seguinte (1990/91), com muito mérito, Firmo de Jesus Ventura vence o primeiro campeonato açoriano de juniores.
Depois dessa experiência fomos convidados para ir treinar o Futebol Club dos Flamengos, proposta que recusámos no início da década de 1990. Aceitámos, porém, o convite para ir treinar o Grupo Desportivo da Feteira, onde permanecemos alguns anos até à época em que a Direcção feteirense deixou de participar nas provas distritais. As despesas eram algumas e, para uma freguesia pequena, as receitas não abundavam. Confesso que éramos remunerados. Uma parte dessa remuneração ajudava a pagar as despesas que tinham de ser feitas nas três deslocações semanais para os treinos e respectivos jogos.

Convidado a continuar a treinar as camadas mais jovens, nesse clube, não chegámos ao fim da época porque os miúdos eram muito rebeldes e indisciplinados.
Como a nossa conduta desportiva, que julgamos ter sido sempre exemplar – porque durante mais de 20 anos a envergar a camisola verde, só nos foi aplicada a sanção de um cartão amarelo – divulgamos agora que esse cartão nos foi mostrado na última época da nossa carreira e que teve origem num comentário feito ao árbitro que se chamava Manuel Rocha.
Depois de todos estes anos ligado ao futebol, chegámos à conclusão que não tínhamos possibilidades de “endireitar o que cresceu torto”.
A missão de treinador tinha terminado e não só.

Como já aqui foi afirmado, toda a colaboração que tinha sido dada ao desporto faialense e em particular ao futebol, foi suspensa. Dentro destes princípios, dissemos a alguém, que nos tinha convidado para pertencer às fileiras directivas da “família verde”, que sempre estivemos dispostos a trabalhar para o Fayal Sport Club. Todavia, desde o momento em que as Direcções passaram a trabalhar para pagar a treinadores e jogadores, podemos aqui afirmar que não fomos educados nem habituados para desempenhar essa função e, por isso, encerrámos o contributo de muitos anos dedicados ao futebol faialense.
Luís Rosa, com Firmo de Jesus Ventura (treinador) e outros jogadores por nós treinados, foram campeões açorianos na época de 1990/91, tendo a maioria dos presentes na foto, ascendido à categoria sénior do Fayal Sport Club.

J. Luís

Publicado no Incentivo a 04 de Fevereiro 2019

1 comentário:

Luis Pinto disse...

É com saudades que recordo este grupo. Abraço a todos, Luis Pinto