terça-feira, fevereiro 19, 2019

"Os Verdes da Alagoa" - O desporto faialense desceu ao inferno?



Ao escrever estas linhas não pretendemos ser mais do que somos nem ser donos da razão nem tão pouco pretendemos estar agarrados ao passado. Temos, porém, a sensação de que o desporto nesta ilha, principalmente o futebol, está a definhar de época para época.
Pertencemos a uma geração que herdou uma enorme riqueza desportiva e que, felizmente, a transmitiu para as gerações futuras.
Naquelas épocas que já lá vão – e nunca será demais recordar factos que ocorreram no passado – por esta ilha se realizavam os primeiros desportos que ocorreram nos Açores:
Andebol, atletismo, basquetebol (masculino e feminino), ciclismo, futebol de 11 e futebol de salão (hoje futsal), hóquei em campo, hóquei em patins, esgrima, ginástica, ténis, ténis de mesa, tiro aos pratos, tiro ao alvo, voleibol, remo, vela, natação e water pólo.
Julgamos que quase todas estas modalidades nos foram transmitidas principalmente pelos ingleses, dos quais os faialenses souberam tirar enorme proveito.
Hoje, os clubes esperam e desesperam para conseguir jovens para a prática de uma das primeiras modalidades que nasceu nos Açores e que se disputa dentro das quatro linhas dos nossos campos de futebol.

Numa conferência integrada nas celebrações do 88.º aniversário da Associação de Futebol da Horta (fundada a 21 de Outubro de 1930) realizada no dia 20 de Outubro na Biblioteca Pública da Horta, foi notada a ausência da maioria dos dirigentes desportivos, jogadores e outros intervenientes nesta área. Como representantes da Associação apenas notamos a presença do seu Presidente, uma vez que se encontrava só na fila da frente.
Isto demonstra que o futebol faialense desceu ao inferno. Em quase todo o século XX, o desporto faialense atingiu momentos de alto nível e depois de ter sido preenchido por uma riqueza desportiva ímpar, o futebol está pelas ruas da amargura.
Para isso tem contribuído não só o desinteresse da juventude por grande parte dos desportos, mas também a falta de respeito, de ética e de princípios que deviam reger a forma de estar por uma modalidade que é designada por desporto-rei.

Nos assuntos lá discutidos, foi focada a inexistência da prática do futsal feminino e da falta de jovens para a prática do futebol. Foi dito que os jovens em vez de andarem “alguns pequenos minutos na rua”, se encontram em casa ligados ao facebook em jogos que muitas vezes são perniciosos e cujos pais dão cobertura, uma vez que não os acompanham em muitos desses passatempos, alguns deles de pouca ou nenhuma recomendação.
Já aqui o escrevemos e vamos repetir: no tempo da nossa geração, quando se queria conviver com um amigo, era no espaço público que ele se encontrava. Era aí que se combinavam os jogos de futebol com equipas de 6 ou 7 jogadores, futebol na praia, os jogos de cabeçada, outros jogos de competição e as brincadeiras saudáveis tais como a pata-molhada, o peão, as escondidas, o fura-paredes, o quiquijá, etc., etc.
Hoje, com as novas tecnologias, a nossa juventude não sai de casa e quando anda na rua está ligada aos suportes digitais e assim julgamos que esse e outros procedimentos vão contribuindo para que a maioria ou a totalidade das restantes modalidades desportivas assim desaparecessem. Se anteriormente o futebol faialense atingiu um alto nível desportivo, podemos agora afirmar que ele vai de mal a pior. No fundo do túnel não se vislumbra nada de satisfatório e por mais que se queira ressuscitar o nível desportivo de anos anteriores, julgamos que isso será impossível ou muito difícil de conseguir.
As épocas são outras. As mentalidades são outras. Os procedimentos são outros. A educação é outra. O respeito é outro. O relacionamento é outro, etc., etc., e assim sendo nada será feito para que o desporto e principalmente o futebol continue na senda do futuro.
Mas tudo está entregue à presente e futuras gerações.
A nossa geração já deu o seu contributo, que não foi pequeno, para que o desporto fosse uma benéfica realidade para a nossa ilha.

É provável que esse contributo tenha sido mal assimilado. Talvez haja nisso alguma responsabilidade nossa, mas posso afirmar que a minha geração muito contribuiu para que o futebol singrasse na nossa ilha. Desde nossos pais, como colaboradores, jogadores e directores do Fayal Sport Club, a nossa cooperação nas mais diversas áreas, foram transmitidas de pais para filhos.
É nossa convicção de que a geração desses tempos pode orgulhar-se de ter dado um grande contributo para que o futebol na nossa ilha fosse respeitado e admirado pelas outras ilhas açorianas.
Actualmente, todos os desportos que fizeram história nesta ilha e principalmente o futebol terão descido ao inferno? Queremos acreditar que não.

J. Luís

Publicado no Incentivo a 18 de Fevereiro 2019

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