terça-feira, dezembro 04, 2018

"Os Verdes da Alagoa" - Os nossos atletas (7 de 9)


Da esquerda para a direita: Manuel Cristo, Manuel Silveira “Cácá”, João Duarte
e Jaime Simas (sócios), Luís Baptista, Manuel Lima, João Luís,
Antero Gonçalves (treinador), Manuel Maria, Alberto Raulino Peixoto (sócio),
Manuel Silveira e João Matos.

Foi pelas ruas do Chão Frio, lugar pertencente à referida freguesia, na sã companhia de outros jovens daquela época, que o Manuel Maria deu os primeiros pontapés numa bola de futebol.
E foi assim que nasceu para o futebol faialense um jogador promissor.
Inscreveu-se nos juniores do Fayal Sport Club. De manhã envergava a camisola dos “Verdes da Alagoa” e à tarde alinhava pela equipa de Pedro Miguel, nos jogos promovidos pela FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho) hoje designada por INATEL.
Em 1962, a sua inscrição é aceite e pela primeira vez enverga a camisola dos seniores. Foi um dos jogadores que conquistou três campeonatos distritais.
No N.º 57 de 6 de Março de 1971, para além do texto abaixo transcrito, o Jornal do Fayal Sport noticiava a triste notícia do falecimento de Manuel Maria da Costa, tendo como título: “O desporto faialense está de luto. Morreu o Manuel Maria” e no 1.º parágrafo estava escrito que: “Após longa e pertinaz doença que lhe foi lentamente roubando a vida, faleceu, no passado dia 10 de Fevereiro, cerca da meia-noite, o nosso futebolista MANUEL MARIA…”

Texto transcrito na íntegra por J. Luís

 “Manuel Maria

Todos o conhecemos. É um jovem. Tem, apenas 25 anos. Está na força da vida. Quem há que não o tenha visto já, de camisola verde colado ao corpo, lutando dentro d campo, com toda a sua alma, com toda a sua vitalidade, com todas as suas forças.
É um atleta exemplar. Nunca lhe ouvimos uma queixa. Nunca lhe conhecemos uma revolta. Nunca lhe vimos uma atitude menos digna quer para colegas quer para adversários.
É um Homem. Todos o respeitamos e – mais do que isto – o admiramos bastante.
É calado. Raramente lhe escutamos uma longa frase. Fala com os olhos, num rosto franco, e é tanto quanto basta para o entendermos bem.
Encontramo-lo pelo caminho: Cumprimenta-nos, sorri lealmente e vai à vida.
Nunca teve uma exigência para o Clube que tem servido.
É um Desportista invulgar.
Não é, por certo, uma habilidade nata para o futebol, mas joga com o coração todo, não vira a cara, não se encolhe. Sempre de peito aberto.
Temo-lo connosco desde Dezembro de 1962, época em que se inscreveu, pela primeira vez, no Fayal Sport Club.
Há tempos que não o vemos no campo.
O Manuel Maria adoeceu gravemente. Não tem podido dar a sua ajuda à equipa.
Um dia destes disseram-nos que falecera. Veio nos jornais.
Recusamo-nos, terminantemente, a aceitar, como certa, a sua morte, a não ser que tenha deixado de haver justiça nos Mundos que nos governam.
Um jovem. Vinte e cinco anos apenas. Honesto, franco, na pujança da vida, forte como um Hércules da mitologia, não pode morrer assim, sem mais nem menos, por um mero capricho dessa entidade hedionda e fria que ceifa, cegamente, vidas necessárias, vidas úteis, vidas preciosas, ao convívio de todos nós. Essa morte feroz, sanguinária, impiedosa, sarcástica, não merece de nós – de ninguém – o mínimo respeito.
Talvez tenha, na verdade, falecido o Manuel Maria da Costa, desportista do Clube e nosso amigo. Talvez…
No entanto, para nós, isso não aconteceu. Agora, jamais acontecerá. É por isso que falamos no presente. O Manuel Maria continuará a ser um Atleta do Clube Verde.
Quando formos ao futebol, e a nossa equipa jogar, por certo que o veremos lá dentro, nas quatro linhas do campo, ora ao ataque ora à defesa, enchendo todo o rectângulo com a sua presença viva e correcção exemplar.
Continuaremos a entrar nos balneários e, mesmo mudamente, perguntaremos:
- Então Manuel Maria?
- Ganhámos…
Ou, com alguma tristeza:
- Perdemos…
E estará, na mesma, tudo dito.
O Manuel Maria morreu?
Para alguns, talvez. Para nós, continuará a ser o Eterno Atleta Verde, o Homem que conhecemos, o Cid da lenda heróica, que mesmo depois de morto, monta o seu cavalo de batalha e conduz os homens à vitória.
Quando morrem destes Homens até as estrelas se apagam”…

J. Luís

Publicado no Incentivo a 03 de Dezembro 2018

Sem comentários: