terça-feira, agosto 14, 2018

"Os Verdes da Alagoa" - Disputa do Torneio dos Campeões Açorianos na Horta (1968)


Em pé, da esquerda para a direita: Mário Carmo, Manuel Raposo,
Manuel Maria, João Manuel, Carlos Machado, João Ribeiro e Costa Pereira. 
Em 1.º plano e pela mesma ordem: Pedro Paulo, Mário Barbosa,
João Luís, José Macedo e João Almeida.


Esta foi mais uma competição que deixou marcas profundas em todos os jogadores do Fayal Sport Club.
Estava em disputa, pela primeira vez na “década de ouro” do Fayal Sport, o torneio oficial dos Campeões Açorianos, que teria lugar no Estádio da Alagoa, em Maio de 1968.
Como representante da Ilha Terceira, chegava à Horta, vinda da Praia da Vitória o Sport Praiense e de S. Miguel o União Micaelense.
Os dois primeiros encontros não podiam ser mais favoráveis aos “Verdes da Alagoa”: o primeiro encontro, que pôs frente a frente Fayal Sport/Praiense, a equipa de casa vence por 1 bola a 0.
Neste jogo, o Fayal Sport, alinhou com: Costa Pereira, Manuel Raposo, João Ribeiro, Carlos Machado, João Manuel, Manuel Maria, João Luís, Pedro Paulo (a prestar serviço militar na Horta, natural de S. Miguel e ex-jogador do União Micaelense, onde nessa equipa tinha um irmão), Mário Barbosa, José Macedo e João Almeida.

No segundo encontro entre Praiense, 4 – União Micaelense, 0, indicava este resultado que o Fayal Sport teria tudo a seu favor para ser o vencedor desta prova.
No seio de todos nós, o estado de espírito não podia ser melhor. Se uma das equipas favoritas a ganhar esta prova tinha perdido por 4-0 com aquela que tinha perdido com a equipa da casa por 1-0, tudo indiciava que seria “canja” o final desse encontro.
A constituição da equipa para esse 2.º jogo foi alterada. As razões dessa alteração residia no facto de que todos os jogadores para serem campeões açorianos teriam que jogar e assim, para o segundo jogo, o treinador Antero Gonçalves escolheu a seguinte equipa:
Costa Pereira, Manuel Raposo, João Ribeiro, Carlos Machado, João Manuel, Mário Barbosa, João Luís, João Ângelo, Pedro Paulo, Manuel Bulcão e João Almeida.
Como se deve reparar, o sublinhado realça as alterações efectuadas mas para além dessa, outra razão existia para que os “Verdes da Alagoa” obtivessem essa inesquecível derrota por 4-0.
Por toda a cidade, tanto os adeptos como o mais comum dos cidadãos transmitiam aos jogadores uma confiança de tal ordem que, para quem ia jogar, esse sentimento teve um enorme impacto em todos os jogadores. Hoje em dia, esse fenómeno teria somente duas designações: excesso de confiança ou falta de acção psicológica. E, provavelmente, foi esse excesso de confiança que permitiu que o União Micaelense estivesse a ganhar por 4-0 ao intervalo. E foi desse modo que o Sport Praiense, sentado no peão do estádio, fosse campeão açoriano.
No fim do jogo, todos os jogadores recolheram a suas casas num sinal de vergonha e de muita tristeza.

Mas melhor do que nós, vamos transcrever o que o boletim do Fayal Sport publicou na sua edição de 1 de Junho de 1968 e da autoria do seu Director Sr. Jaime Baptista Peixoto:
“Mais uma vez perdemos na “nossa casa. Mais uma vez o vencedor foi uma equipa terceirense. Podemos afirmar que o Campeão Açoriano foi o melhor conjunto do torneio? Evidentemente que não. Primeiro porque de dois encontros poucas conclusões se podem tirar. Depois porque o Fayal se lhe superiorizou no primeiro jogo e ainda porque a equipa micaelense foi a que apresentou o melhor futebol praticado, ainda que só no último encontro. Acreditamos que o conjunto do União Micaelense não vale tão pouco como mostrou no primeiro desafio, nem tanto como o verificado no último. Um meio termo, talvez seja o julgamento mais justo.
União Micaelense e Fayal Sport Club foram duas equipas incaracterísticas e muito irregulares. Foram do inferior ao óptimo. Já o Sport Praiense, sem grandes elevações mas também sem descer ao medíocre, foi o que mostrou maior regularidade. E é aqui que podemos basear a sua vitória final: na regularidade.

Não conhecemos os problemas que podem afectar o futebol das outras ilhas. Os nossos conhecemo-los bem. O maior de todos será este êxodo assustador de desportistas que todos os anos saem da nossa terra. Não vamos agora referir nomes. Basta dizer que a equipa já débil que iniciou este torneio, se viu ainda mais enfraquecida com as saídas inesperadas de Manuel Maria e José Macedo, aquele por exigência do serviço militar, este por lesão contraída no primeiro encontro. Num quadro onde dificilmente se arranjam os onze elementos necessários, a falta de um pode agravar bastante o seu rendimento. Foi o que se verificou.

Sabemos que o nosso futebol não anda bom. Dum modo geral. Isto, no entanto, não será motivo para desanimar e deixar cair os braços. Antes pelo contrário. Há que lutar e bem. Temos elementos valorosos. Há que descobrir outros e, sobretudo, mantê-los. Dum modo particular os futebolistas verdes continuam a merecer a nossa estima e confiança, assim como o seu dedicado e competente treinador. Vamos continuar a lutar sem desfalecimento, e os resultados, mais cedo ou mais tarde, acabarão por premiar o nosso esforço”.

J. Luís

Publicado no Incentivo a 13 de Agosto 2018

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