terça-feira, abril 02, 2019

"Os Verdes da Alagoa" - Definir o Tempo



Prof. Jaime Baptista Peixoto, Director do Boletim do FSC

O Tempo não se define a si próprio. Porque o Tempo é um conceito ilimitado. Não tem princípio nem fim. Pode acabar o Mundo. Pode acabar a Vida. Pode chocar-se todo o Universo. Mas o tempo, esse, durará para todo o sempre, na sua indiferença metodicamente fria.
Mas ainda o Tempo – o Tempo que cortamos nas duas extremidades existenciais do género humano – pode, muito bem, definir-se por obras. Definir-se por realizações. Definir-se por realizações. Definir-se na matéria palpável das coisas úteis. Definir-se em pensamento. Definir-se em verdade. Definir-se pelo que fica. Pelo que se faz. Pelo que se quer. Pelo que se pode.
É nesta definição de Tempo que, passados 75 anos de vida viva do nosso Clube, se descortinam, em rasto inapagável, os sólidos alicerces desta Colectividade total, rasgados palmo-a-palmo por gerações de artistas diligentes e dedicados, que foram levantando a construção enorme, edifício chave do que somos todos, esta Família Verde, na plenitude imorredoira e firme de um misterioso triunfo colectivo.
Desde as primeiras Pedras – a Pedra da Fundação, a Pedra do estádio, a Pedra da Sede-Ginásio, e de tantas outras menores que ficaram atestando um percurso de nível superior – até à marcação desta efeméride sem outra igual, que o Fayal Sport Club tem suportado, em todas as épocas e em todos os parâmetros, as vitórias sem arrogância, as vicissitudes sem desfalecimento ou lágrimas, a normalidade quotidiana sem conservadorismo estático. É que o Fayal é uma colectividade impulsiva. Dinâmica. Voltada para o Futuro. E, por ser assim, é que sobrevive nas horas más. Que se galvaniza nos momentos de alegria. Que luta, corajosamente, em todos os outros tempos.
E hoje que vem comemorando as suas Terceiras Bodas – as Bodas de Diamante – conserva na bagagem de tão longa caminhada a primitiva Esperança, que foi – quanto a nós – A pedra mais rica de um maravilhoso nascimento, símbolo de um progressão estóico e salutar, que vence batalhas, que derruba os obstáculos mais difíceis e que, persistentemente, vai semeando raízes multiformes em cada momento que passa.

É desta Esperança que nasce a Vontade imensa de nunca mais parar. De fazer melhor. De estar, sempre, na primeira linha. Em nome. Em esperança. Em crença. E é desta crença, desta vontade e desta presença forte, que, mesmo agora, se lança uma nova Pedra – e outras se irão seguir – no levantamento do polidesportivo necessário, que é, afinal, a prossecução da primeira chama.
Na Grécia Antiga, num ideal desportivo e são, que também perseguimos, gritava-se, entusiasticamente, ao pai de dois jovens que, no mesmo dias, foram coroados vencedores:
- Morre, Diágoras, que não podes resistir a tanta felicidade!...
Não iremos, naturalmente, morrer. Porque, agora, a felicidade é outra bem diferente. É, unidos e persistentes, continuar a levantar paredes e a pôr tectos em muitas arquitecturas do nosso génio: o génio que persiste; o génio que vence; o génio que torna as almas grandes e sabe valorizar s pequenas coisas; o génio que vem do coração e do espírito; o génio de gerações sucessivas, que se encadeiam, em elos resistentes, capazes de conduzir o Fayal Sport Club aos limites infinitos – nesta relativa infinidade – do Tempo que, humana e sabiamente, tentamos, humildemente, definir…
                 
Nota - Texto publicado em edição especial do boletim do Fayal Sport Club, de 2 de Fevereiro de 1984, assinalando as “Bodas de Diamante” da sua fundação. Era Presidente da Assembleia-Geral José Bettencourt Brum, Presidente da Direcção Tomás Manuel Rocha e do Conselho Fiscal André Rodrigues Porto.

J. Luís


Publicado no Incentivo a 01 de Abril 2019

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