terça-feira, setembro 11, 2018

"Os Verdes da Alagoa" - Visita do Casa Pia ao Faial (1922)


Sentados, da esquerda: Allan, João Rodrigues, Augusto Lemos,
Manuel Afonso e Júlio Andrade.
De pé: Manuel Gonçalves Jr., Júlio Oliveira, Carlos Cunha, Atkins,
Read, António Costa, José Rosa e J. Kennedy, árbitro.

Éramos muito jovens e de vez em quando, principalmente na Barbearia do Sr. Francisco “Barbeiro”, cuja loja se encontrava aberta na Rua Serpa Pinto, N.º 39, r/c, mesmo em frente à porta de entrada do Mercado Municipal, por várias vezes ouvíamos falar da equipa do Fayal Sport que tinha defrontado o “Casa Pia”.
Esta barbearia era muito frequentada por jogadores e adeptos do Fayal Sport, e quando se esperava pela nossa vez para se cortar o cabelo, as cadeiras encontravam-se ocupadas não só de clientes mas de muitas pessoas que iam para a barbearia comentar o jogo realizado na véspera.
Recorrendo ao que foi escrito no livro “Fayal Sport Club - Subsídios para a sua História”, da autoria do Sr. José Bettencourt Brum, mais uma vez transcrevemos alguns parágrafos que nos são transmitidos nas suas páginas:
“Em Maio de 1922 o Fayal Sport Club entra em negociações para a vinda à Horta do Sporting Clube de Portugal, Campeão Nacional.
A Imprensa local e até açoriana começa a referir-se largamente, ao grande acontecimento.
Em 20 de Maio de 1922 a Direcção e Conselho Técnico do FSC escolhem para treinador do grupo que defrontará o Campeão Nacional, o Sr. R. A. Peck e convocam os jogadores para lhes impor as condições a que deve obedecer a sua preparação física e técnica.
Dificuldades surgidas impossibilitam o Sporting Club de Portugal de visitar a Horta e então o FSC fez idêntico convite ao Casa Pia Atlético Club, Vice-Campeão de Portugal e Campeão da época anterior.

A excursão Casapiana é dirigida pelo Sr. Olívio do Carmo Assunção e constituída pelos seguintes desportistas: Clemente Guerra, António Pinho, José Gomes dos Santos, Henrique Gouveia, Cândido de Oliveira, José Maria Gralha, Silvestre Rosmaninho, Alberto Loureiro, Aníbal Santos, Aníbal Cordeiro, Pinto de Magalhães, Manuel Cruz, Carlos Melo e Augusto Luís Gomes.
Como delegado do FSC acompanhou o Casa Pia o Sr. Manuel de Medeiros Tânger.
Da equipa do Casa Pia faziam parte 4 internacionais, entre os quais o seu capitão, Cândido de Oliveira, que foi também o capitão da equipa nacional que defrontou a Espanha e o único jogador português que conseguiu “furar” as redes do célebre ZAMORA.
O Casa Pia chegou à Horta a bordo do vapor “Roma”, no dia 23 de Junho de 1922, sendo cumprimentado pelas Direcções do FSC, Amor da Pátria, Grémio Literário Artista Faialense e director de “O Telégrafo”.
O menino Thiers Lemos Jr., filho do Presidente do FSC, equipado à Fayal, ofereceu aos visitantes uma “corbeille” de flores naturais.
Ao desembarcarem foram saudados pela enorme multidão que os aguardava no Cais de Santa Cruz, seguindo depois para o Faial-Hotel.
No mesmo dia, à noite, houve recepção e copo de água no Amor da Pátria, usando a palavra os Srs. Artur Leandro, pelo FSC, Manuel Meneses, pelo Amor da Pátria, Dr. Luís M. Saraiva e Cândido da Oliveira, pelo Casa Pia.
No dia 24 o FSC ofereceu um passeio de carro à estrada da Caldeira.

1.º ENCONTRO – 25/6/1922: Casa Pia, 2 – Fayal Sport Club, 0.
O jogo teve início pelas 17 horas, no campo do FSC, na Doca, perante uma assistência calculada em 5.000 pessoas. Arbitrou o Sr. J. Kennedy, dando o pontapé de saída o Sr. Thiers de Lemos, Presidente do FSC. Foi abrilhantado pelas filarmónicas Artista Faialense, União faialense e União e Progresso.
Dia 26: é oferecido ao Casa Pia um passeio nas baías da Horta e Porto Pim, onde lhes é dado admirar uma baleia pescada na manhã desse dia.

2.º ENCONTRO – 27/6/1922: Casa Pia 4 – Fayal Sport Club, 1
Pelas 17 horas, no mesmo campo, perante uma assistência computada em alguns milhares de pessoas, realizou-se o segundo encontro que foi arbitrado pelo Sr. J. Kennedy. Deu o pontapé de saída a menina Maria Gonçalves de Lima.
O golo do FSC surge a 20 minutos do final e o jornal a “Democracia”, de 30-6-1922, relata-o nos seguintes termos:
“…Júlio Andrade apodera-se da bola, foge pela esquerda numa corrida vertiginosa, e sempre em linha recta sem se desviar de ninguém, passa além da defesa do Casa Pia, e com um pontapé soberbo, cola a bola às redes Casapianas. A assistência de pé, electrizada, delira de entusiasmo, e até que a bola volte ao centro, as palmas parece não terem fim”.
Na noite deste mesmo dia 27 o Grémio Literário Artista Faialense dedicou ao Casa Pia uma reunião dançante.

3.º ENCONTRO – 29/6/1922: Casa Pia, 0 – Fayal Sport Club, 0
Jogo realizado no campo do FSC, na Doca, perante numerosíssima assistência, cujo entusiasmo foi, por vezes, enorme, frenético, aplaudindo as boas fases do jogo e essas construíram quase toda a partida.

Na noite de 29-6-1922 a Sociedade Amor da Pátria realizou um baile dedicado ao Casa Pia e no dia 30 o Fayal Sport Club ofereceu um passeio em automóvel em volta da ilha e copo de água na residência do Sr. Manuel Meneses, no Pasteleiro.
Em seguida ao copo de água um grupo de damas ofereceu um chá que decorreu muito animado, dançando-se até à meia-noite.
O Casa Pia regressou a Lisboa no dia 1 de Julho, no vapor “Lima” tendo tido uma afectuosa despedida”.

J. Luís

Publicado no Incentivo a 10 de Setembro 2018

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